Dificuldades e distúrbios de aprendizagem: O que os pais precisam saber.

Foto Autor Post por Daniele Passos

As dificuldades e os distúrbios de aprendizagem são temas que têm levado muitos profissionais da área da educação e da saúde a se implicar em estudar e sistematizar métodos de avaliação, diagnóstico e intervenção.

 

Observamos que os “problemas” de aprendizagem, na maioria das vezes, começam a aparecer nos anos iniciais da escolarização. Sendo assim, é muito importante salientar que os primeiros anos de inserção ao aprendizado da escrita e da leitura são fundamentais para os posteriores anos de conteúdos mais complexos. Se a inicialização ao letramento for marcada por dificuldade e pouca habilidade, a probabilidade de repercussão nos anos posteriores da escolarização  é alta. A inserção ao mundo do letramento é lenta, gradual e progressiva.

 

Um fato muito interessante é que existe uma grande diferença entre a linguagem oral e a linguagem escrita. Aprender a falar é uma herança biológica, hereditária, independente da classe econômica, cultural, geográfica, sexo ou raça. O homem nasce para falar, pois não há registros de nenhum grupo social que não tenha desenvolvido algum tipo de comunicação oral. A ausência de linguagem oral ou a evolução lenta pode indicar necessidade de atenção, pois não é esta a tendência natural do desenvolvimento infantil.

 

A linguagem escrita é fruto da cultura e necessita de aprendizagem para ser aprendida. A criança, para aprender a escrever precisa viver em uma sociedade letrada, ou fazer parte de uma sociedade que utiliza letramento. Por ser uma habilidade aprendida, a criança mesmo que tenha desenvolvido a linguagem oral de maneira adequada pode não conseguir aprender a escrever.

 

Aprender a ler e a escrever são atos sociais muito importantes, que vão muito além de se traçar letras que são representadas por sons e representantes de palavras. A leitura não se limita a decodificar os sons que as letras representam. Ler e escrever são modos de comunicação, expressão, que carregam significados e interpretações.

 

Não podemos deixar de lembrar que nossa Língua Portuguesa é complexa e nosso sistema ortográfico é exigente, pois existem muitas variações quanto ao modo que de se falar e escrever uma mesma palavra, e esta passa assumir significados diferentes conforme sua grafia.

 

Algumas dificuldades encontradas pelas crianças pequenas são consideradas comuns e possível de superação se as mesmas forem passíveis de  atenção especial  e a identificação dos conceitos que não compreenderam. Mas também existem os distúrbios de aprendizagem, que necessitam de atenção especial.

 

Os distúrbios de aprendizagem se caracterizam por problemas em áreas especificas do cérebro, que acabam ocorrendo o que chamamos de falha no processamento. O que não significa que a criança não irá aprender, mas sim, aprenderá de modo diferente. Já as dificuldades podem estar relacionadas ao método do ensino, ao ambiente escolar, as relações familiares e aspectos psicológicos da criança. Sendo assim, as dificuldades de aprendizagem esta relacionada as crianças em fase escolar , por apresentar problemas de ordem pedagógica e sócio cultural, e não esta centrado apenas no aluno, já o transtorno de aprendizagem está vinculado a existência de comprometimento neurológico que atrapalha na aquisição e manutenção da aprendizagem. Dentre os distúrbios de aprendizagens estão a dislexia, as discalculias e as disgrafias. Apesar do TDAH – transtorno de déficit de atenção e hiperatividade ser considerado um transtorno relacionado ao comportamento, por afetar a atenção e a concentração, acaba causando dificuldades no processo de aprendizagem.

 

É importante salientar que os distúrbios de aprendizagem são mais raros do que as dificuldades de aprendizagem. Muitas crianças chegam aos consultórios dos especialistas com um “pré -diagnóstico” de transtorno de aprendizagem, porém, após avaliação  não constata-se nenhum transtorno, apenas dificuldades que  são sanadas oferecendo a devida atenção e método eficiente.

 

Os professores conseguem perceber quando um aluno não está conseguindo progredir na escolarização, porém, não tem a obrigatoriedade de fazer o diagnóstico dos motivos pelos quais estão impedindo o aluno de aprender, pois a avaliação da aprendizagem necessita do envolvimento de vários profissionais, tais como psicólogos, psicopedagogos, fonoaudiólogo, neurologista e neuropsicólogo.

 

Aos pais cabem ficar atentos e auxiliar seus filhos para um bom desenvolvimento pedagógico, emocional e social. Pais atentos ao modo de como seus filhos estão absorvendo a aprendizagem correm menos riscos de ter suas crianças estigmatizadas quando o processo de aprendizagem não está saindo conforme o esperado, visto que, conforme dito acima, muitas crianças são incluídas num rol de transtornos que muitas vezes não lhe cabem. E o contrário também é verdadeiro, pois pode ocorrer que os pais ou a escola não deem a devida atenção aos sintomas que a criança vem apresentando. Frases do tipo: “ele é preguiçoso”, “não gosta de estudar”, “só tem dificuldade com a leitura”, “só não consegue interpretar texto”, “ apenas não sabe a matemática”, “como pode ter algum problema, se fica horas concentrado num jogo de vídeo-game”, podem carregar a negação de que algo errado está ocorrendo. . Temos que pensar que os estudos e métodos de intervenção estão avançando  e as crianças podem se beneficiar muito e se desenvolver plenamente.

 

Diante do exposto acima, gostaria de deixar algumas dicas e sugestões de como reconhecer alguns sinais de dificuldade de aprendizagem em seus filhos:

 

  • Certifique-se que seu filho ouve e enxerga bem;
  • Recorde-se como foi o desenvolvimento motor, cognitivo e sensorial. Ou seja, com qual idade começou a falar, engatinhar, andar, se teve dificuldades alimentares, com qual idade ocorreu o desfralde. Essas informações são importantes para a avaliação profissional;
  • Faça visitas recorrentes a escola. Participe das reuniões escolares. Ouça as orientações dos professores;
  • Fique atento se o rendimento escolar estiver abaixo do esperado, ou se houve queda repentina de rendimento;
  • Lentidão e esforço exacerbado devem ser motivos de atenção;
  • Crianças que “enrolam” para fazer suas tarefas escolares, podem estar demonstrando uma recusa de começar a fazer algo que é penoso e difícil;
  • Preste atenção se seu filho faz a tarefa com pressa, deixando partes incompletas;
  • Queixas sobre a escola, colegas, professores e lições, podem ser um sinal que seu filho está lhe dando por não estar conseguindo acompanhar a turma;
  • Fique atento caso seu filho começe a dizer: “Sou burro mesmo” ou “ Não faço nada direito”. A baixa autoestima, a perda da confiança, ou acessos de raiva , medo e ansiedade, são sintomas importantes.
  • Nunca deixe de buscar orientação profissional em caso de dúvidas. O melhor sempre é “pecar” pelo excesso do que pela falta.

Junho 2016