O Amor na Psicanálise

Foto Autor Post por Daniele Passos

O convite que nos foi feito para falar esta noite sobre o Tema “Sexualidade” e a minha pessoa falar sobre o “Amor na Psicanálise”, desencadeou em mim diversas sensações de alegria e angústia. O tema “Amor” poderia ser abordado através de uma diversidade muito grande de composições, pois o amor já foi cantado, poetizado, pintado, filmado e narrado. Sendo assim, podemos começar dizendo que uma das definições interessantes para o AMOR é que ele pode ser chamado de “ A mola propulsora da vida”.

 

Optei por discorrer sobre o tema embasada no livro “Os Quatro Vínculos: amor, ódio, conhecimento e reconhecimento”, de David E. Zimerman, motivada, não por mera coincidência, pelo amor e as vibrações emocionais que esta obra me despertou. Zimerman me proporcionou uma generosa e agradável leitura, e ao relê-lo para estar aqui com vocês agora, me despertou novas sensações e conhecimentos, motivando-me,a dividir com vocês tal experiência. Além disso, decidi abordar este tema pensando na sexualidade e na psicanálise de um modo agradável e não muito rebuscado, com o objetivo de despertar a curiosidade de vocês pelo tema e pelo autor.

 

Para começar julgo interessante apresentar a vocês quem é David Zimermam:

 

O Dr. David E. Zimerman formou-se em medicina pela UFRGS, em 1954. Especialista em psiquiatria pela Clínica Pinel em 1964. Formação psicanalítica no Instituto da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre (SPPA). As múltiplas atividades exercidas por ele incluem uma intensa participação como psiquiatra, psicoterapeuta individual e de grupos, psicanalista, assíduo participante em congressos nacionais e internacionais, apresentando sempre suas brilhantes contribuições. Ensina no Instituto de Psicanálise da SPPA, além de desenvolver contínua atividade como supervisor de psicoterapia e psicanálise, assim como mantém sua atuação na clínica privada.

 

Zimerman desenvolveu o conceito de configuração vincular que designa o fato de que cada pessoa contrai com uma outra, ou com várias pessoas uma configuração típica de inter-relacionamento em que os quatro tipo de vínculos (amor, ódio, conhecimento e reconhecimento) se entrecruzam e se complementam de forma sadia ou patológica. A estruturação que configura cada tipo de vinculo guarda raízes tão antigas e profundas que pode acontecer com uma pessoa ou pode variar bastante de parceiros. Assim como as notas musicais ( do- ré- mi- fá, sol, lá e si) ocupam lugares distintos na escala musical, quando vinculadas formam uma arranjo musical.

 

O Amor para Zimmerman é explicado conforme segue abaixo:

 

A palavra Amor vem do latim “amoré”, porém, Zimmerman vai mais longe e nos informa que o prefixo “a” no vernáculo português e demais idiomas latinos está relaciona a ausência ou exclusão. Já o “mors”, em latim, está ligado a morte (genitivo de mors é “mortis”, sendo assim estaria harmoniosamente ligado ao principio fundamental de Freud quanto a existência das pulsões de vida ( também chamada de Pulsão de amor) e a Pulsão de morte ( pulsão de Tanato). Portanto, o sentimento de amor seria resultante de uma larga predominância sobre a pulsão de morte “a” = sem ( ausência) e mors ( morte) amor = a ausência de morte.

 

Do ponto de vista da psicanálise, para Freud O amor seria uma modalidade de manifestação das pulsões sexuais, ou seja, as pulsões de vida e pulsões de morte.

 

A pulsão de vida seria representada pelas ligações amorosas que estabelecemos com o mundo, com as outras pessoas e com nós mesmos, enquanto a pulsão de morte seria manifestada pela agressividade que poderá estar voltada para si mesmo e para o outro. O princípio do prazer e as pulsões eróticas são outras características da pulsão de vida. Já a pulsão de morte, além de ser caracterizada pela agressividade traz a marca da compulsão à repetição, do movimento de retorno à inércia pela morte também.

 

Para a psicanálise o primeiro Amor não é Edípico, mas sim Narcísico, onde o bebê não se diferencia entre ele a e mãe que lhe cuida. Assim, se a tramitação amorosa narcísicas for bem sucedida, o amor Edípico também será, caso contrário, “vultos” que assombraram as relações amorosas adultas, tal como podemos observar nesta poesia de Fernando Pessoa:

 

“Sinto que sou ninguém, salvo uma sombra, de um vulto que não vejo e me assombra”.( Fernando Pessoa)

São as primeiras relações do bebê/ criança que irão interferir para a formação da personalidade e formar as diferentes formas de amar. Mas o que importa é como as diferentes forma de amar e de ser amado configura dentro dele e fora da pessoa. Os vínculos interpessoais reproduzem os intrapessoais. Pois será como o bebe e a criança juntamente durante seu desenvolvimento produzirá a repetição de bons vínculos ou não…

 

Em virtude destas primeiras experiências emocionais na infância é que teremos diferentes de modalidades de amar e ser amado. Tipos de amor:

 

  • Amor simbiótico: ocorre quando o casal se basta, demonstra uma dependência recíproca;
  • Amor sadomasoquista: apresenta um jogo de recíprocas acusações, cobranças, magoas, ódio com revides de vingança e situações de humilhação na presença de outros;
  • Amor obsessivo tirânico: onde predomina o controle sobre o outro, através do poder de sustento sobre o outro;
  • Amor histérico : revive uma configuração vincular onde por exemplo reproduz um pai que sustenta a filhinha ou a mãe que cuida do filhinho amado. Quem esta no papel da criança costumeiramente existe uma preocupação com a aparência para compensar a sensação de vazio, alem de baixa capacidade para superar frustrações. O histérico humilha e inunda o outro com culpas, porem, não comete vingança porque precisa de sua vitima;
  • Amor paranoide: gira em torno da desconfiança e do ciúme excessivo, que pode configurar o ciúme patológico;
  • Amor narcisista: a característica mais marcante é que um dos parceiros idealiza o outro. E o que idealiza mantém-se esvaziado, para que o idealizado possa brilhar ainda mais.
  • Amor perverso: transgridem as normas normalmente aceitas no plano da sexualidade, ética, vínculos familiares e sociais;
  • Amor platônico: O amor platônico não se fundamenta num interesse, mas em uma virtude, assim se estabelece na beleza e na inteligência. Comum em adolescentes, jovens e em pessoas tímidas com medo de serem rejeitadas.
  • Amor paixão: Existem várias conceptualizações para a palavra paixão, igual ao que ocorre com o Amor. A palavra paixão vem do Grego, Pathos que significa patologia, dor, sofrimento o qual comumente são carregados destes sentimentos alguns estados de paixão. E, também, Pathos, pode originar o termo passivo, ou seja, é comum uma pessoa apaixonada agir passivamente aos caprichos do outro.

 

A paixão pode se configurar de um modo sadio, como acontece comumente nas relações amorosas dos adolescentes e que pode, com o tempo, tornam-se um tipo de amor mais sólido, como, também, pode-se tornar uma paixão cega ( Não enxerga o que os outros lhe dizem). Tanto na paixão sadia, como na paixão cega, se emprega um alto grau de idealização, onde ele/ela tem a certeza de ter encontrado seu príncipe ou princesa encantados.

 

As razões que desencadeiam esta idealização:

 

  • Sentimento de poder se fundir a pessoa amada, tornando-se um só;
  • O desejo de encontrar no sujeito por quem se apaixonou o outro lado dele próprio: a criança que já foi, a outra face do que ele é na atualidade ou o que almeja ser no futuro;
  • Tentar, inconscientemente, de uma maneira ilusória, resgatar a criança que era
  • Ressuscitar no amado uma figura importante que se foi normalmente guarda semelhanças físicas e pessoais da pessoa que se foi)

 

Portanto, observamos que o amor pode se apresentar de diferentes maneiras na vida do ser humano e tudo vai depender de como as primeiras relações amorosas se configuraram, sendo assim as pessoas, em sua maioria, ficam procurando o amor como solução para todos os seus problemas, quando na verdade, o amor é a recompensa por você ter resolvidos os seus problemas.