Para uma autoestima suficientemente boa

Foto Autor Post por Daniele Passos

Ao ser convidada a escrever uma matéria sobre o tema autoestima para a Revista “O Debate” fui informada que seria uma edição contendo reportagens positivas, onde seus protagonistas contariam histórias de vitória e superação. Pensei, então, em compartilhar com os leitores o conceito de uma autoestima suficientemente boa, me apropriando do conceito de “mãe suficientemente boa”, desenvolvido pelo médico e psicanalista Winnicott.

 

Winnicott explica que para que um bebê tenha um desenvolvimento emocional saudável ele deve ter acesso a uma mãe (ou quem faça esta função) suficiente. Esta mãe não deve ser extremamente superprotetora e, ao mesmo tempo, não deve ser extremamente relapsa.

 

A autoestima se refere a avaliação que a pessoa faz de si mesma de acordo com suas atitudes e experiências vividas. É uma avaliação afetiva do seu próprio eu, assim, a autoestima suficientemente boa seria aquela que a pessoa conquista durante toda a sua vida e que se inicia na infância através das identificações construídas com as pessoas que têm uma relação afetiva importante e que seja potencializante, criativa e fértil.

 

O autoconceito faz referência ao conhecimento que a pessoa tem de si mesma. – sou bom jogador de futebol; sou um bom eletricista. O nosso autoconceito dependerá do modo como as pessoas reagem ao nosso comportamento, demonstrando uma reação de aprovação ou desaprovação diante de nossas ações. As reações de aprovação e desaprovação é que vão contribuir para a formação de uma imagem pessoal vivida positivamente.

 

Além disso, durante toda nossa vida vivemos experiências de alegrias e frustrações, que elevam ou não nossa autoestima, que nos deixam satisfeitos com o que somos ou desejando ser outro alguém que imaginamos ser bem melhor do que nós. É através de nossa capacidade emocional de nos perceber criativos e potentes e o reconhecimento de nossas limitações, que conseguiremos ter uma avaliação de nós mesmos preciosa. Por exemplo, um jogador só entra em campo se tiver a dimensão que pode ganhar ou perder; um cantor só sobe ao palco se tiver a dimensão dentro de si que pode ser vaiado pela plateia.

 

Entrar em campo na vida implica no reconhecimento de sermos incompletos e demasiadamente humanos. Percebermos falhos para determinadas coisas e bem desenvolvidos para outras, faz com que busquemos nos aprimorar na vida. Dificilmente uma pessoa será boa em tudo, pois são nossas experiências de vida e as identificações afetivas responsáveis por nossas habilidades únicas.

 

Algumas pessoas têm mais afinidade e desenvoltura para os esportes, outras para as artes, outras para a gastronomia, outras fazem a mesma coisa que nós, porém, de maneira única e assim por diante. Precisamos, também, conseguir admirar as qualidades das pessoas que nos rodeiam, sem sermos invadidos pelo sentimento da inveja. Precisamos abrir nossa caixinha de joias, para nós mesmos enxergarmos nossas potencialidades e compartilhar com os que estão a nossa volta. Não sermos invadidos pelo sentimento da vergonha e da limitação, para conseguirmos admirar o que somos e ser admirados pelos demais.

 

Portanto, uma avaliação positiva e suficiente de nós mesmos, requer conseguirmos visualizar nossas potencialidades e limitações, reconhecer e admirar as qualidades dos que nos rodeiam, não sermos invadidos pelo sentimento da vergonha, e assim, abrir nosso porta joias interior e nos admirar para podermos ser admirados pelas pessoas.